quarta-feira, 16 de junho de 2010

Contar Histórias




Em um documentário a que assisti, denominado Histórias, de Paulo Siqueira, foi dito que, quando duas pessoas compartilham uma história, já saem da sala com fortes vínculos de parentesco. Acredito que contar histórias é muito importante, porque acabo dando o melhor de mim para as pessoas. Ao contar uma história, entro em comunhão com os que me escutam. Contar histórias é compartilhar idéias, emoções, palavras. As palavras aqui neste trabalho são de extrema importância e, assim como coloca Jorge Larrosa,

"O homem é o vivente com palavra. E isso não significa que o homem tenha a palavra ou a linguagem como uma coisa ou uma faculdade,ou uma ferramenta, mas que o homem é palavra, o homem é como palavra, que todo o humano tem a ver com a palavra, dá-se em palavra, está tecido de palavras,que o modo de viver próprio desse vivente que é o homem se dá na palavra e com a palavra. Por isso, atividades como atender às palavras, criticar as palavras, escolher as palavras, cuidar as palavras, inventar as palavras , proibir as palavras, jogar com as palavras, transformar as palavras etc., não são atividades ocas ou vazias, não são mero palavrório. Quando fazemos coisas com as palavras,do que se trata é de como damos sentido ao que somos e ao que nos acontece, de como juntamos as palavras e as coisas, de como nomeamos o que vemos ou o que sentimos e de como vemos ou sentimos o que nomeamos". (LARROSA,2004,p.153)

No referido documentário foi colocado, com muita ênfase, que a narrativa é necessária, nós necessitamos de narração, nós somos a matéria narrada, o tempo todo, até mesmo no silêncio. Trazer para minha reflexão a figura do “contador” de histórias e suas nuances entre a narração e a atuação é, dentro deste contexto, trazer a atriz/performer, que busca não esconder ou camuflar sua relação com o público, tomando cuidado de limitar-se a um confronto que não se converta em encenação sofisticada. Patrice Pavis, em seu Dicionário de teatro (2001), traz uma definição sobre o contador de história:

O contador de histórias é uma artista que se situa no cruzamento de outras artes: sozinho em cena (quase sempre) narra sua ou uma outra história, dirigindo-se diretamente ao público, evocando acontecimentos através da fala e do gesto, interpretando uma ou várias personagens, mas voltando sempre ao seu relato. Reatando os laços com a verbalidade. (PAVIS,2OO1,p.69)

Para mim, tornou-se importante ressaltar a verbalidade, na medida em que isso se relaciona diretamente com o modo como eu vejo e exercito minha arte.


Acredito que, hoje em dia, é mais necessária do que nunca a comunhão de histórias, das nossas histórias, pois o ser humano tem se tornado descartável, substituível por maquinários. Quando digo substituível me refiro a esta mediação cibernética que nos afasta dos olhares (olho no olho) e desta relação, cada vez maior, do não presencial e sim daqueles seres humanos que são cada vez mais mediados por tecnologias. Essa forma de contato - contar histórias - se dá em menor escala e é nesta arte de contar que, também, visualizo uma comunicação mais próxima e de verdadeiros encontros. O teatro e sua efemeridade sempre me mostraram o sentido e suas infindas possibilidades, até mesmo quando parecia não fazer sentido. Lendo Patrice Pavis começo a perceber, com maior complexidade, as diferenças e sutilezas da contação de história, narração e narrativa, que podem se fazer presentes no espetáculo teatral e também na Contação-espetáculo.

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